sexta-feira, 10 de maio de 2019

O Medo


Todos nós, em algum momento de nossas vidas, tivemos sonhos.

Em verdade, o sonho caracteriza o Ser Humano e o diferencia do animal. A capacidade de imaginar é um dos mais altos predicados que um Ser Humano possui. Não confunda com fantasia - crer que algo que não ocorre, de fato está ocorrendo, mesmo que por alguns instantes, em minha cabeça -, pois de fato enquanto uma é horizontal, outra é vertical.

É Vertical pois nos empurra para cima e para frente. A Imaginação é um poder criador cujo poder ainda por nos é subestimado. E como o próprio nome diz, a Imaginação deve conter também ação para poder ser vitalizada e materializada, e já é, pois, um estágio superior ao sonho.

Mas o fato é que há algo entre a nossa melhor versão, daquele ser íntegro e inspirador que podemos ser, e o que somos hoje.

Há algo entre o que poderia ser e o que é.

Esse algo é o medo.

O medo nos afasta da relação profunda com aqueles que temos do nosso lado: impede a conversa franca; impede que façamos aquilo que amamos pelo que pode parecer; impede a construção de amizades sólidas para não se expor. Impede, por fim, o amor.

O medo é, de fato, um ceifador de sonhos. Um ceifador da própria felicidade.

Não me refiro ao saudável grau de medo que se assemelha a prudência.

Me refiro ao constante boicote interior de resistir ao chamado da Natureza de, simplesmente, ser quem nós somos.

“Você está paralisado de medo? É um bom sinal. O medo é bom. Como a falta de confiança em si próprio, o medo é um indicador. O medo nos diz o que devemos fazer. Lembre-se de um princípio básico: quanto mais medo tivermos de uma tarefa ou vocação, mais certeza podemos ter de que devemos realizá-la. A Resistência é experimentada na forma de medo; o grau de medo é igual à força da Resistência. Portanto, quanto mais medo sentirmos sobre um determinado empreendimento, mais certo podemos estar de que o empreendimento é importante para nós e para o crescimento de nosso espírito. É por isso que sentimos tanta Resistência. Se não significasse nada para nós, não haveria nenhuma Resistência. (...) Portanto, se você estiver paralisado de medo, isto é um bom sinal. Mostra-lhe o que deve fazer. (...) Quanto mais Resistência você sentir, mais importante a arte/projeto/empreendimento é para você – e mais gratificação sentirá quando finalmente a realizar.” 

Steven Pressfield, Guerra da Arte.

Fique atento ao medo e não despreze-o. Não seja imprudente. Mas perceba que no coração - raíz da palavra coragem - há uma resposta enfática e luminosa para o que o malabarismo de ideias circulares não pode perceber.


segunda-feira, 8 de abril de 2019

Florença



Florença
Flor de Esperança
da Beleza que aconchega...
da Beleza que relembra.

Relembra o Destino e o Caminho.
Relembra, imponente
O Caminho da Grandeza.

A Grandeza da alma
Que tem ojeriza à mediocridade
A mediocridade mortal
Da alma que se cristaliza na matéria, petrificada.

Não, o Destino é o cristal florentino,
Que, nas esquinas de suas arestas,
Reflete respeitosamente a luz
que se propaga e multiplica.

Cristal cuja simetria arquetípica
é moldada pelos Deuses.
E na proporção perfeita
Impacta a alma e a faz sonhar.

"Não, a mediocridade não é minha!"
Exclama ela, extasiada pela Beleza.

O que faz parte de mim, continua ela,
é este cristal florentino
Que na beleza musical de suas proporções
Cataliza minha visão
Para um futuro que não tardará a chegar.

És tu, flor florentina
a fonte da fragrância que me dá esperança.
És tu, flor florentina
Que através de tua fragrância
transporta a mensagem eterna.

A mediocridade não tardará a se envergonhar
Graças a tua mensagem,
que se pereniza nos séculos.

E a humanidade, como Glauco
Se reerguerá do lamaçal que angustia
se desprenderá do lodo
E verá, na perfeita face do teu cristal
A sua verdadeira face.

Olhará, então, para cima
Os olhos marejados do tempo perdido,
Transbordando aquilo que não cabe no peito
E prometerá a si mesmo e a Natureza:


'Não tardará, Senhor,
Não tardará,
a vermos Tua fragrância
Espalhada pelos quatro cantos...
Eis o Destino.'

Obrigado, flor florentina
Cristalizada na história
Pelos gênios que te semearam.

Obrigado, flor florentina,
Por espalhar novamente
Esta fragrância imemorial
Que chacoalha minha alma!

O Golias é de papel
e a inércia histórica
Cedo ou tarde,
Encontrará em Davi
A redenção de Prometeu.

Obrigado, Flor Florentina...

domingo, 16 de setembro de 2018

Eis-me aqui

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Eis-me aqui.

Com minha espada e minha armadura,
Apresento-me à missão.

Eis-me aqui.

Nada para mim,
Nada para mim,
Tudo para a Glória de servir-Te.

É o caminho pedregoso
a aridez da missão
que valida a honra de quem o percorre.

Na confusão da Bruma
A Virtude norteia
A racionalidade é superstição com outro nome.
O coração é a porta para a Verdade.

Eis-me aqui, Senhor, Eis-me aqui.

Prontifico-me com minha luz e minha sombra
Não ofereço perfeição
Apenas peço a oportunidade de servir-Te.

Servir-Te para que o Homem de Ouro
desafie a gravidade,
e Floresça do Barro.

E possa voltar a honrar o solo que pisa.
o Sol que o aquece,
A água que o hidrata,
O pássaro que canta,
O animal que o alimenta
A flor que perfuma.

Este Homem de Ouro precisa acordar,
Levantar-se do sono profundo,
E, para isso, Senhor

Eis-me aqui.









A Nobre Camponesa




Sim, a nobre camponesa sabia que deveria cumprir o seu dever. Sua lenha a esperava. Entretanto, o dia configurava-se ameaçador lá fora: cinzento, ventoso, hostil.

Trevoso.

A nobre camponesa hesitava. A dúvida, veneno corrosivo, insinuava-se entre os meandros de sua mente.

A nobre camponesa observava uma batalha dentro de si, como se ela fosse um árbitro imparcial de um diálogo terceirizado: os argumentos plausíveis da dúvida, ardilosa, contra o poder da convicção que, apesar de gerar um ímpeto flamejante em seu peito, não era lógico.

Todavia, a nobre camponesa sabia que não podia confundir ternura com falta de resolução. Seu dever a esperava.

O vento forte a faz amarrar seus longos e dourados cabelos. A trajetória até sua lenha era pedregoso, entretanto havia algo de especial no jeito que ela andava: uma leveza tal que parecia que seus macios pés flutuavam pelas rochas, como que fazendo parte do próprio cenário. A camponesa não entendia, mas intuía: aquela floresta já a conhecia e aceitava. Gozava-lhe afeto. Mal sabia ela: não havia resistido à sua ternura e pureza, e sempre lhe abriria as portas, quando para o cumprimento de seu dever.

A camponesa parte, então, resoluta. 

Contudo, a floresta portava uma antiga moradora, velha como o próprio tempo, que ao perceber a nobre camponesa avançando pelas brumas do desconhecido, não pôde ficar indiferente. Havia também de cumprir seu papel.

A floresta, aflita, mas esperançosa, nada pôde fazer para evitar.

A velha e sábia raposa tratou então de dificultar o caminho da camponesa, com sons ameaçadores, queda de frutos, uivos dissimulados. A cada susto, a camponesa sentia como que o medo apresenta-se: como um odor insinuante que procura o esteio do instinto. A camponesa sentia a atmosfera agressiva do umbral psicológico que a separa do estágio seguinte de sua jornada, mais lúcido e luminoso.

A camponesa hesita. Não sente-se pronta. “Outro dia, quem sabe”, pensa ela. A raposa esboça um sorriso.

Mas a camponesa, após o instante do impulso, observa aquele pensamento como um invasor. Como um inquilino que se hospeda nas esquinas empoeiradas da mente. Que finge estar de passagem, mas que aproveita-se de seu caráter despretensioso para ir, aos poucos, firmando-se como soberano.

A nobre camponesa trata então de reconhecer quem é a Proprietária.

Eis que, ao atravessar um frio lago através de um tronco que fazia às vezes de ponte, um grande e pesado pedaço de madeira cai a centímetros de sua cabeça, destruindo a ponte e levando a camponesa ao fundo de um sombrio e gelado lago. Do alto da copa das árvores, a velha raposa gargalha de satisfação. 
Sua pavorosa gargalhada ecoa pelas brumas da floresta e toma a dimensão de sua aparente vitória. A floresta, entristecida, murcha junto com suas flores: confiava em sua amada camponesa; havia acompanhado o florescer de sua alma e se encantado com a sua lealdade e pureza, que resistiam às maiores decepções e perigos. 

A camponesa, como que parada no tempo, pôde observar, enquanto caía na gélida coluna d’água, a causadora de sua pequena tragédia: lá do alto da árvore, a velha raposa. 

O colapso parecia irreversível.

Eis que, das entranhas das brumas, a magia acontece.

O Sol, bravo, aparece em Sua Majestade e rompe-lhe o lacre. Uma Majestade que aliava a rara combinação de imponência e ímpeto.

O Instante
Flerta
com o Eterno.

A Duração
se transmuta
em Eternidade.

A camponesa recebe os raios e sente-se, enfim, segura. O Sol exercia nela um poder que ela novamente não compreendia: dava-lhe força e esperança, como que a relembrava de uma poder soberano que a tudo dá vida e ilumina. O Sol era, para ela, um Grande Senhor, que ela respeitava e admirava, à sua maneira. 

Naquele instante, o seu temor e desespero se esvanecem e seu peito enche-se de coragem. A nobre camponesa olha então, no fundo dos olhos da raposa. A raposa sente, ali, um fogo heroico que a espanta. Um fogo que ilumina as negras arestas do medo. Aqueles instantes relembram à raposa aquilo que ela mais temia: a Força que sustenta toda a floresta, representada por aqueles fulgurantes raios, deixava agora claro o destino de sua empreitada. 

Ela reconhece a mesma matriz desses raios nos olhos, agora flamejantes, da nobre camponesa. 
Tudo isso ocorria nos interstícios que separam a batida do relógio.

O Instante
Encanta
O Eterno.

A nobre camponesa segura-se nas raízes da margem e ergue-se, vertical.

A velha raposa é sábia, e sabe reconhecer quando seu papel acabou. Cabisbaixa, recolhe-se às sombras de onde veio. Havia também cumprido seu papel, e em algum momento a camponesa entenderia. 

A nobre camponesa ruma, então, ao seu destino.

Sua lenha a esperava.

Ao chegar ao local, eis que o Sol, que já avançava no horizonte, a presenteia novamente com sua Luz e Energia. Ao abaixar-se para pegar a lenha, seus cabelos agora desprendem-se sutilmente e, em um casamento mágico, caem sobre sua face enquanto os raios solares beijam sua maçã do rosto.
O ambiente adquire um caráter de tal forma mágico que a camponesa sente que toda a floresta, naquele momento, com ela se comunicava, e com ela entrava em comunhão. Era como que uma Grande Amiga comemorando o sucesso de sua missão.

A camponesa olha para os lados, vê a dança das árvores com o vento; o murmúrio da água que desliza sobre a rocha; a alternância ritmada do canto dos pássaros; o ímpeto da flor que, brava, desafia a gravidade e inunda a vida de Beleza; os raios de sol abrindo caminho, como um Rei, sobre as nuvens.

Ela enxerga em tudo uma Música. Seus olhos marejam com a Sinfonia que vê em sua frente.
Ela sentira que havia cumprido seu dever. Não obstante, a nobre camponesa intuía de alguma forma que a sua Vitória não fazia sentido se saboreada sozinha; trata de retornar com sua lenha ao seu Lar, onde seus amados à esperavam. Enfrentaria novamente as brumas.

Por Amor.

O dever estava apenas na metade.

Seu cavalheiro chegaria, ao entardecer, trazendo sua caça, e encontraria um ambiente aquecido pela chama de sua esperança.


A HISTÓRIA



História amada,
doce mestra
Por sua sabedoria

Vigorosa,
por suas consequências.

Clio aguarda o levantar do homem.
Enquanto sussurra seu destino áureo
Que reluz e ilumina o ferro

Clio aguarda, paciente
o homem que se sublima
da garra pesada do egoísmo
e realiza a História.

Clio une as pérolas
Com o fio da verdade
que não tem épocas, nem tempos.

Os ciclos se repetem
Anunciando a espiral ascendente
Se os Homens de Ouro emergirem da bruma.

História, doce mestra.

quinta-feira, 1 de março de 2018

Aqui, onde a Terra se Mostra




Aqui, onde a geologia ferve
Aqui, onde a Terra se mostra.
Aqui Ela exclama, superlativa:

“Eis-me aqui, com todo meu esplendor!”

E paciente, abre seu livro.
Paciente, aguarda que Seus filhos possam ler.


“Sim, meus filhos!”, transparece ela
“vocês foram geniais e conquistaram o átomo!
Mas esqueceram de conquistar a si mesmos...
E se perderam na esquina do progresso.

Venham até mim,
e sob o monumento deste esplendor titânico
Relembrem quem vós realmente são.”


Assim Gaia Se mostra
Paciente com seu filho teimoso.

Filho que insiste em se separar
em se dividir
Achando, pobre criança, que assim se fortalece.


Achando, pobre criança, que é exigindo que galgará
Esquecendo, pobre criança
Que é doando que se engrandece.

Assim Gaia se mostra
Com o amor de quem ensina
E na dança de suas transformações
Entoa a Harmonia de suas lições



Aqui, onde Seu sangue ferve
E a linguagem ígnea se impõe
A exuberância de suas curvas
conformam a poesia


A Poesia da Vida.


A canção é entoada.
Esperando que seus filhos teimosos
Finalmente a escutem.


Os anos atestam:

A velhice não lhe tirou o esplendor.

A juventude não é questão de anos 

É questão de amor.



sábado, 24 de junho de 2017

5 simples reflexões para uma vida melhor




1 - O conforto é extremamente superestimado.

Vivemos em uma sociedade aburguesada, independente dos algarismos da conta bancária. O que isso significa? Colocamos nossas expectativas no conforto, transformando-o no motor de nossas decisões, das menores às maiores. Trata-se de uma perigosa ideia reinante em nossos tempos. O conforto como objetivo de vida tem como sintoma mais básico a deformação de caráter, isto é, a falta de domínio sobre aspectos de nossa personalidade a ponto de não conseguirmos fazer aquilo que sabemos que devemos. 
Há consequências ainda mais perigosas, com o consequente comodismo que estatiza a mente, subjugando-a à ideias que não são nossas, desviando-nos daquilo que verdadeiramente somos. Isto manifesta-se em uma sufocante infelicidade e angústia. 

E qual o detalhe fundamental? A felicidade não está no conforto. Definamos a região de conforto como a nossa região de domínio; para o crescimento que proporciona a satisfação da evolução, temos de, mais de nos acostumarmo-nos com o desconforto:

Devemos buscá-lo.

Nessa região de "desconforto" estará a própria expansão da zona de conforto, de domínio e consequentemente da própria felicidade.


Tudo isso banhado, é claro, por um saudável bom senso e uma indispensável inteligência.

2 - Maturidade não é sinônimo de cabelos brancos e rugas. Maturidade é estabilidade psíquica.

E por psíquica leia-se emocional e mental. Busquemo-la.

3 - Nascemos para o movimento e podemos fazer muito mais daquilo que acreditamos. 

Com isso refiro-me aos já alicerçados boicotes mentais que nos impedem que façamos as coisas, e percamos oportunidades de crescimento exponencial no âmbito interno e externo. Entretanto, se as coisas que fazes não tem um sentido e um ideia que as sustentem, os atos não terão coerência e não haverá a motivação nem a energia para cumpri-los. Antes de sair fazendo coisas acreditando que terá energia para tal, revise profundamente a razão por trás daquilo que ages. Por que acordas todos os dias, afinal?

“As tarefas do mundo me sufocam e me impedem de ser autêntico e livre”. Perigo!

Busquemos um profundo e verdadeiro motivo do porquê acordamos todos os dias; algo ligado à nós mesmos, interligado às pessoas ao nosso redor... algo que seja coerente, sólido, à longo prazo, ignorando os ansiosos desejos de recompensas imediatas. Assim, poderemos encarar as aspereza da vida com dignidade e força. A vida é dura? Sejamos ainda mais duros. Mas com o coração leve de quem vive com propósito. Não confundamos liberdade e autenticidade com debilidade.

Entra-se, assim, em um círculo virtuoso em que movimento gera movimento, e por alternâncias harmônicas de atividades pode-se fazer muito mais, para si e para os outros, com o mesmo tempo que dispõem as outras pessoas. Vida é movimento: nasce-se para se movimentar, interna e externamente.

Temos uma capacidade vital muito maior do que imaginamos. Nosso corpo, igualmente, é muito mais forte do que supõem nossa - aí sim - frágil psique.

4 - A felicidade é um mistério. 

Mas aonde quer que ela resida, não está no conforto, e está muito próxima das coisas simples e que aquecem o coração, como a convivência humana. Valorize-a. A inércia que te impede que assim faças, camuflada de constrangimentos, se trata de uma muralha de palha, pronta para se desfazer, rendida ao fogo de tua vontade. A convivência denuncia facilmente nossas próprias sombras; é um mecanismo insubstituível para a evolução.

Por convivência, refiro-me não ao comum companheirismo de ócio: refiro-me à convivência humana coração à coração, olho no olho, profunda, que vença as nuvens de isolamento que afastam as pessoas umas das outras e penetrem na essência de cada um. 


Difícil?

Difícil é ser infeliz.

5 – Os defeitos das pessoas não são o que elas verdadeiramente são.

Reflita sobre sua reação ao descobrir um defeito de uma pessoa, ou mais do que isso, ao sofrer qualquer tipo de dano, emocional ou material, relacionado àquele defeito. Nossa tendência é pensar “Essa pessoa parecia ser tão legal, e agora demonstrou quem verdadeiramente é.”

Entretanto, o que ocorre é justamente o contrário. Por que não pensar “A pessoa luta bravamente por ser mais digna e correta, entretanto, por momentos de fraquezas, comporta-se por vezes de tal maneira. No fundo, comportar-se assim a magoa, entretanto ela não reuniu a força e a instrução necessária para comportar-se da tal outra forma”.

Há aí uma inversão 180º na análise, para uma perspectiva mais humana e verdadeira. Adotar essa perspectiva traz um efeito colateral magnífico: somos mais compreensivos com nossos próprios erros.